segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Depois de longa inatividade, uma surpresa:
o blog alterado, sem opção de escolha, e a
certeza de que a cada dia somos menos livres
para querer e escolher, fazer e desfazer...
Coisas dos "sistemas". Regras do jogo.
Resta refletir e optar por aquilo que nos pareça
menos invasivo, castrador ou inconveniente.
Agora, mais que se justifica o "Christmas Blessings"!
E que nasça DE NÓS este Natal, e não das máquinas!
Sylvia Cohin
24.12.2012
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Desconfio
Que vivemos fases semelhantes por vertentes distintas, mas não ousamos confessar porque admitir machuca.
Desconfio
Que poucos, muito poucos, entenderiam o contorcer de um coração a gritar, no âmago, sem, contudo, conseguir extravasar.
Desconfio
Que ficamos paralisados, enquanto os pés querem fugir. Que ficamos mudos, porque não sabemos dizer, e, ainda que conseguíssemos, de nada valeria porque seria NADA para o mundo, e guardado no peito, é TUDO.
Desconfio
Que estamos em xeque-mate, sem tabuleiro. Em confronto, sem guerra. Entre o silêncio das certezas e o alarido das dúvidas.
Campeando raios de Lucidez, deixamo-nos levar sem emoção, sem apegos, rumo a outra dimensão, bravamente serenos, singrando o horizonte das Revelações.
Desconfio
Que já não há poesias porque somos a Poesia feita história, rastro de trajetória, e com a coerência de quem não sabe, mas pressente, desconfio que paramos numa encruzilhada, a escolher um rumo:
Passado? Futuro? Presente?
Desconfio
Apenas desconfio dessa vida, sempre um desafio, desse cansaço estéril, e ainda que essa longa estrada acene Auroras que não se cansam de apagar as noites, cumprimos mansamente cada etapa da viagem que nos cabe...
Em 12 de fevereiro de 2012.
SYLVIA COHIN
Marcadores: Auroras, futuro, passado, presente, Sylvia Cohin, Vera Mussi, Viagem, xeque-mate
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Um olho que olha, o outro que vê.
No mato cerrado, a fera desliza.
Com ajuda do olfato, a presa à mercê
do faro apurado e o sopro da brisa.
O instinto felino ataca certeiro.
Duelo de instante, a presa se faz
oferta que jaz no altar traiçoeiro,
macabro festim da morte voraz...
Resta o silêncio com cheiro de medo,
e a vida alimenta a Vida na Terra.
Um guincho no ar completa o enredo,
no instante seguinte o drama se encerra.
No mato é assim, quem pega, consome,
licença não pede e não há tribuna.
Na mata se mata pra matar a fome.
Pecado não há... e não há quem puna.
Lá não há reza, nem pobre, nem rei,
porém dos Limites, todos dependem.
Da Língua que falam, juro, nem sei,
só sei que ela é Lei e todos se entendem!
E num ritual que é quase solene,
quem urra, faz hurras, quem silva, sibila!
Sem chip, HD, memória é o gene
do reles bacilo, ao maior gorila.
A Raça que sobra, (nem Fauna, nem Flora),
e reza contrita uma Ave Maria,
faz glosa, faz rima pra Nossa Senhora,
mas vive pra Guerra de noite e de dia.
Da Paz faz pretexto e a alma penhora...
Que a lei desta 'Selva'... é só Utopia.
SYLVIA COHIN
Porto-Pt, 20.08.2008
Marcadores: duelo, falsa selva, fera, instinto, lei, limites, selva, Sylvia Cohin, vida e morte
domingo, 18 de dezembro de 2011
Quando o elo de um abraço
rodeia o corpo da gente,
faz-se um nó que tece o laço
da ternura que se sente...
Abraço é um gesto que enleia,
faz do abstrato, concreto;
agita o sangue na veia,
sinal que revela afeto.
Que não falte em nossa vida
esse rito (que anda escasso),
que o bem-querer consolida
e abranda tanto o cansaço!
Entre presentes e laços
- sofreguidão natalina –
que o calor de mil abraços
seja a única rotina...
E entregues ao Entrelaço
duma amplitude global,
descansemos no regaço
dessa Noite de Natal.
SYLVIA COHIN
Brasil, Natal de 2011
Marcadores: abraços, elo, entrelace, global, natal, rito, Sylvia Cohin
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Fernando Peixoto
Porque não pára o tempo
quando estás ao meu lado?
É tão curto o tempo para te ouvir ...
Depois há os teus olhos
em que paro
nesta longa viagem ao interior da tua sedução
e de onde não me apetece partir...
Ah se eu pudesse suster os relógios
ficaríamos assim
de mãos dadas por toda a eternidade
um período demasiado exíguo
para a dimensão enorme do tempo deste amor.
FERNANDO PEIXOTO
Marcadores: Eternidade, Fernando Peixoto, sedução, tempo
Fernando Peixoto
Só sou feliz
quando quero,
quero saber algo mais,
e pergunto e pergunto-me
sempre
e tento estar lúcido
dando conta de tudo
dos outros, do mundo
para me encontrar e me reconhecer
Sou feliz se procuro
se tenho dúvidas
e me inquieto.
FERNANDO PEIXOTO
Marcadores: dúvidas, feliz, Fernando Peixoto, inquieto, lúcido
Sylvia Cohin
Eu sou Centelha fugaz
O Fruto de uma alquimia
Capricho de leva-e-traz
Do Tempo, dia após dia...
Sou Força que me conduz
E desconheço a medida
De toda Treva e da Luz
Que me acompanham na vida...
Não tenho eira nem beira
Eu sou Pó que meus pés pisam
Do Cosmos sou a poeira
E Adubo pros que precisam...
Sou Visão antecipada
Do olho cego do Homem
A cada curva da Estrada,
Repasto que os chacais comem...
Eu sou Símbolo conciso
Do Concreto e do Abstrato
Sou Tormento e Paraíso,
Tudo e Nada, um entreato.
Sou Elo dessa corrente
Que começa e não tem Fim,
Sou Embrião e Semente,
Nasço, morro e vivo em mim.
Eu não sou dona de nada,
Também ninguém me possui
Se de mim sou a morada,
De alguém, serei ou já fui...
Trago o Bem e o Mal comigo
Cavalgo as Dores da Cruz
Se às vezes sou um castigo,
Noutro momento eu sou Luz...
Sou daqui, mas Longe fica
O Segredo que me explica.
Eu vim do Ventre que orbita
Nas entranhas do Lugar
De uma Harmonia infinita
Que nem tem Rei pra reinar...
Eu sou apenas um Ponto
Na vastidão desse Império
E a Grandeza que me aponto,
Não existe, é um Mistério.
SYLVIA COHIN
domingo, 19 de setembro de 2010
Invade meu coração,
derruba essas bastilhas,
deixa-me exposta, assim, nua
e indefesa,
entregue à tua sedução...
Desfaz com o toque mais suave
a resistência de meus músculos
e cobre com teu beijo, na surdina,
a lassidão que aos poucos me domina...
Cativa-me...
Aquieta essa agonia, essa premência,
essa dúvida constante
e segreda ao meu ouvido a essência
de um amor quase divino,
as confissões do menino,
os desejos do amante...
Cativa
meus sentimentos e mansamente,
sob o manto dessa intimidade,
prende-me em teu laço...
Dá-me o calor de um abraço
onde repouse toda minha ansiedade...
Cativa-me...
Afugenta meus temores, dores,
arrebata-me!
Liberta-me de mim, acorda-me!
Quero a embriaguez dos insensatos,
a alforria dos pudores, a ruptura dos liames...
Cativa-me!
E no calor que nos invade, lúbrico,
amemos, sem limite, a consagrar num rito,
cada momento como se fosse único.
SYLVIA COHIN
terça-feira, 3 de agosto de 2010
O bom Poeta que jamais se cansa,
Até dormindo cria um Canto novo.
Entre os anelos e um passo de dança,
Acena aos deuses e serena o povo.
Essa figura não raro bizarra
Que empunha a lira e canta seu cordel,
Oculta o pejo e solta a voz na marra
Para a platéia tanta vez cruel...
Se escuta apupo, finge que não viu
E faz mesura para o aplauso ameno
Enquanto enxuga a lágrima sutil
E morre um pouco do próprio veneno.
Pobre mambembe tão cheio de brio,
Que boquirroto, conta seus segredos,
Fecunda versos com seu melhor cio,
Chuleia rimas em seus tolos medos.
Mascateando suas libações,
O Mercador caminha e faz pregão;
Em seu varejo, invoca até Camões,
Entre as coxias, guarda o coração!
SYLVIA COHIN
Porto, 24.05.2008
Marcadores: acena, fantasia, mercador, platéia, Sylvia Cohin