Fernando Peixoto
Eu canto os olhos que já viram
o desesperado fogo do poente
eu canto os olhos que sentiram
as lágrimas de toda a minha gente
e os olhos que um dia descobriram
que sorrir é uma forma de ir em frente
Eu canto o peito repartido
por mil pedaços de ambição
eu canto o peito inda dorido
do último estilhaço dum canhão
e o peito rude endurecido
pela seiva que nos sobe deste chão
Eu canto as pernas que temeram
mil vezes o terror de uma gangrena
eu canto as pernas que sofreram
longas caminhadas como pena
e as heróicas pernas que correram
em busca duma pátria mais fraterna
Eu canto as mãos duras calejadas
por mil ferramentas e ofícios
eu canto as mãos rudes e estragadas
por incontáveis sacrifícios
e as mãos unidas as mãos dadas
na corajosa esperança dos comícios
E cantando o corpo canto a vida
recheada de insucessos e de glória
canto um corpo que é vida repartida
por mil pedaços de memória
canto pois a minha gente renascida
erguendo palmo a palmo a sua história
FERNANDO PEIXOTO
4 Comments:
O teu canto, Poeta, ultrapassa as fronteiras do teu chão e embala a Esperança adormecida no peito de outro povo, teu irmão...
Lindo poema poeta amigo.... aqui na minha terra ainda é 22 de abril e hoje é o aniversário do Descobrimento do Brasil. Depois que Cabral aqui chegou, nem o oceano consegue nos separar....
Um abraço...
Soberbo!
Tudo o que gostaria de comentar, o Poeta o diz! Grata pelas palavras, Poeta de sentimentos.
Um abraço
Fernando,
Linda a poesia !
De alguma forma o canto ao seu povo, é também ao nosso, pois nossas histórias estão, desde a chegada de Cabral, entrelaçadas.
Beijo
Tina
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