Sylvia Cohin
Que me escarneçam...
Danem-se todos, desapareçam !
Abram espaço, afastem-se de mim
deixem-me sozinha
perambular assim...
A quem importa
se trago a esperança morta,
ou se me assusto
com o bater de cada porta...
Confusa, amedrontada,
suja e desgrenhada
choro, grito,
e na defesa agrido!!
Sem noção do que fazer,
nas mãos, a saia levantada,
carne de terceira para ser usada...
- Coitada!!
- Dá aqui um trocadinho?
- Dá!! Só um cigarrinho...
Pitar sentada na beira da calçada...
Pra quem mostrar a dor
n´alma estampada?
Quem diria... quem diria...
p´ra loucura fugiria...
Esconderijo do desencanto,
refúgio do meu pranto!
Quem sou eu,
senão o resto do que se perdeu...
senão a dor que tanto doeu?
Onde alguém que me conheça,
um trapo que meu coração aqueça??
- Fique longe de mim!!!
- Eu sou apenas louca !
- Alguém me entenda!!!
Por favor...
A mão amiga, alguém me estenda!
Não amordacem minha boca
que tem até sentido
o delírio de uma louca!
Sei que não pareço gente,
retalho, trôpega, indigente...
Falo sozinha...
Conto p´ra mim a vida minha...
Divago enquanto a pele
ressecada afago
sentada na beira do caminho.
Debruçada na janela
do meu peito,
espreito...
Ohhh loucura, escuridão
que me tortura e assusta...
ohhhh, perdição!!
Eu só queria o fio da meada...
lucidez entremeada,
perdida,
nos porões dessa demência...
Cansei
desisto
eu não existo...
SYLVIA COHIN
5 Comments:
Oi Sylvinha,
Linda sua poesia. Alíás todas, leio, mas não tenho tempo nem de comentar. Por que ficamos tão sem tempo?
Estamos correndo para onde?
Juro para você que tenho saudades do tempo que eu tinha tempo.
Beijão grande em seu coração e para Fernando também.
Gloria Guedes
"...Quem sou eu,
senão o resto do que se perdeu...
senão a dor que tanto doeu?"
Forte. Soberbo, este poema. Adorei.
Abraço e bom fim de semana :)
...oi Sylvia, só aqui para lhe ver, desaparecida amiga.... estas quatro horas de diferença estão me atrapalhando.... lindo sábado, lindo poema, linda alma a sua sempre dourada.... bjs do amigo...
Antes loucura que demência!....
Parece o mesmo, mas não é.
E loucuras destas, Deus as abencoe!
Maria Mamede
Um monólogo feito com muita propriedade. Já o vejo declamado e aplaudido. Você anda demais, amiga.
Beijos. Cleide
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