terça-feira, 24 de outubro de 2006

« APENAS ALGUÉM »

Cleide Canton

Jogou a echarpe sobre os ombros nus
num movimento rápido, seguro
e, sem muito esforço,
foi-se para não mais voltar...
Escandalizou a todos
com a segurança de suas decisões,
com a fé inabalável nas suas convicções.
Jogou, sem esperar vencer,
todas as cartas guardadas.
Não blefou.
E o pequeno mundo não compreendeu
o brilho do seu olhar.
Vitoriosa,
mesmo sem precisar lutar,
seus adversários seriam sempre
o tempo e a distância
contra os quais lutou
apenas com a constância.
Levava na bagagem
um coração repleto de certezas,
uma vontade de simplesmente ser,
sorrindo dos tropeços,
desviando-se dos espinhos,
distribuindo carinhos,
arrancando as vendas
que tentavam desviá-la dos seus intentos.
As lágrimas, os desencantamentos
eram desafios a serem vencidos
na solidão de todos os seus momentos.
O tempo desvendou-lhe os mistérios
e a distância ensinou-lhe a andar ligeiro.
Nunca mais encontrou
a porta de entrada
como jamais retrocedeu na jornada.
Despediu-se da vida
num vacilar da madrugada.
Dizem que a viram sorrir
e num elegante gesto
atirar sua echarpe ao nada...

CLEIDE CANTON
São Paulo - Brasil

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Lindos versos, Cleidinha!!! sinta-se abraçada pelos versos e pela data de hoje, seu niver!!!!
Beijos meus

25 de out. de 2006, 10:28:00  
Blogger Silêncios said...

Comovente...mesmo!

31 de out. de 2006, 18:44:00  

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