segunda-feira, 23 de julho de 2007

« Para Lá do Poema »

Fernando Peixoto

Pode calar-se o grito
pode queimar-se o papel
em que o poema estava escrito
pode mesmo matar-se o poeta
mas o Poema
esse é feito de eternidade
e resiste para além do medo
estilhaçando o mármore dos túmulos
e cavalga sobre o algodão das nuvens
até às galáxias mais longínquas
do universo da quimera

O Poema viverá para lá do poeta
porque o poema é o seu sémen
atirado ao futuro
para que germine no útero do sonho
Ninguém pode sepultar um poema

FERNANDO PEIXOTO





« A Veste Preferida »

Sylvia Cohin

Debruço na janela e espreito a Vida
Que teima em se esconder acabrunhada
Envolta na cortina esfumaçada
Que usa como veste preferida...

Em vão a brisa sopra alcoviteira
As franjas dessa roupa debruada
Que encobre de mistério a caminhada
Negando-me a visão da vida inteira...

Alheia ao meu temor inquietante,
Esboça o vulto incerto e intrigante
Daquela persistente tecelã...

Desisto da vigília sem proveito
E destorcendo as fibras do meu peito,
Sigo tecendo a veste do Amanhã...

SYLVIA COHIN