segunda-feira, 31 de março de 2008

« Tempo Encantado...»
Sylvia Cohin

esse tempo que apressado
nos atropela fremente,
sem pena põe cadeado
trancando o tempo da gente...

se esse instante que é presente
logo a seguir é passado
e todo amor que se sente
fica sem tempo, calado,
eu quero um tempo decente
e sobretudo Encantado...

SYLVIA COHIN



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domingo, 30 de março de 2008

« Pequena Ode a Dionísio »

Sylvia Cohin

Haja Páscoa redentora
a jorrar dentro de ti
Vida Nova e promissora
como num sonho eu vi...

Haja Paz no coração
deste meu Menino errante
gozando Libertação
sem temor e confiante!

Haja Luz nesta Passagem
a clarear o caminho,
a redobrar a coragem
deste bravo Ribeirinho...

Haja indômita Vontade:
Como água de nascente
que entre as pedras sempre há-de
serpentear Livremente...

Haja tal Renovação
que permita o Renascer.
Finda a germinação,
Vinha Nova a Florescer!

Seja Resgate e Abrigo
este momento pascal,
Celeiro de Vida e Trigo
pro Dionísio, afinal!

Que a Redenção da Nascente
Tua alma dessedente!

SYLVIA COHIN

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« APELO A CLIO »
(entrelace)

Vem, doce Clio, sobre as vagas
e sussura-me ao ouvido os teus segredos
eliminando de vez todos os medos
que se perdem nas mãos com que me afagas.

Vou, Dionísio, atender aos teus apelos
e na calma dos afagos te confesso:
não temas, porque meu amor não meço
nem deixo de aninhar-te nos meus zelos.

Vem, doce Clio, e que os teus lábios
repousem de mansinho sobre os meus
e que o brilho dos teus olhos sábios
penetrem nos meus olhos que são teus.

Vou, plantar em teus lábios meu carinho,
semente de um querer onde me enleio,
fundir-me em ti tangendo teu receio
e achar no teu olhar o meu caminho.

Porque nada, Amor, do que conheço
faz sentido sem ti para adorar
e a própria dor de que padeço
se atenua no prazer de te cantar.

Musa és das histórias que eu invento
e o centro do meu estro em movimento.

Vem, doce Clio, dá-me a mão,
e o milagre nascerá desta magia
com que alimentas em mim esta paixão
de ter-te como Musa em cada dia.

Vou, cantar contigo a dor de tanto amor
vivido passo a passo nessa estrada
mãos dadas, ao teu lado, enfeitiçada,
serena, confiante e sem temor!

Se um dia foste o mito que sonhei,
és hoje a realidade... Acordei!

Fernando Peixoto & Sylvia Cohin
(republicado)

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terça-feira, 4 de março de 2008

« AQUILES NA CIDADE»
Sylvia Cohin

gira, gira, gira mundo,
giração descompassada
sabor de melancolia
ora sonho, ora agonia
vendo a vida num segundo
que o tempo reduz a nada

gira o ponteiro da hora
gira o turno de trabalho
gira o dia da semana...
logo o amanhã é agora,
logo o depois é grisalho,
e dispara a vida insana

deita, acorda, sai correndo
corre atrás do autocarro,
corre, que vem o patrão,
corre atrás do dividendo,
fuma apressado um cigarro,
faz check up ao coração...
e não controla a emoção

insônia, estresse, gastrite,
dor de intestino, colite,
sempre sem trégua ou limite...

corre pra cumprir horário,
dirige na contra-mão,
tem agenda com alarme,
relógio de precisão,
num corre-corre diário
esquece a descontração...
deixa para trás o charme
da aparência, da ilusão...

competição inclemente,
sofre a pressão do apelo
a coação do modelo
que o sistema indiferente
cobra, dissimulado...
apela pro relaxante
entre a agonia e o enfado

guarda sonhos na gaveta
e quando chega aos sessenta
persegue o tempo perdido
resta um troco de gorjeta
um só desejo acalenta:
ser vencedor, não vencido...
acupuntor, analista,
de si mesmo anestesista...

dá-se conta do engodo:
é um Mito da Cidade
voraz e devoradora
silenciosa e soturna
vive o dia à média luz
mete os sapatos no lodo
nessa rotina diuturna,
confundindo a identidade
c'o peso da própria cruz.

chora o canto emudecido
canta a falta de alegria
falta-lhe o riso no olhar...
ri um tanto dolorido...
dói e tomba de apatia...

Tomba hirto a gargalhar:
hirto da própria agonia!

SYLVIA COHIN

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