sexta-feira, 19 de outubro de 2007

« CATIVANDO »

Sylvia Cohin & Fernando Peixoto

Eu te prendo em meu jardim
no mais doce cativeiro,
se fizeres prisioneiro
todo o amor que mora em mim...

Como vou prender primeiro,
se sou eu o prisioneiro?
Cativa-me tu a mim
na prisão do teu jardim.

Nas grades das tuas rosas
me sinto um preso feliz
porque as pétalas formosas
me riem quando sorris.

Minhas grades são de rosas
mas também são de jasmim
eu te prendo toda prosa
se também sorris pra mim...


Eu sinto-me hipotenusa
nos teus braços de catetos
e do teu rosto de musa
sou cativo dos afectos.

Eu sinto-me teorema
nesta perfeita equação:
estou presa sem algema
dentro do teu coração..!


Sylvia Cohin & Fernando Peixoto



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« JANELAS »

Sylvia Cohin

Haja chuva ou ventania,
no inverno ou no calor,
a janela tem mania
de um espreitar sem pudor...
Testemunha, alcoviteira
que revela ou denuncia,
ao abrigo da soalheira,
ela esconde... ou anuncia...

A janela enxerga longe
um fato sério ou banal
à socapa espia o monge,
ou o arrufo conjugal...
A fresta d´uma janela
pode ser uma armadilha
tudo que passa por ela
é bom tema de "partilha":

Promete sonho à criança
alenta o velho a esperar...
Mirante que não se cansa
da vida sempre a passar...
Descerra-se no calor,
vedada se é grande o frio,
acena com uma flor,
acolhe um gato vadio...

Olho a janela sem riso
sem bate-boca, arrelia,
parlatório onde o "juízo"
é sempre o prato do dia...

Traga Zéfiro nas asas
a orgia de outros ventos
a fecundar as janelas
co’a primavera de alentos.
Soprem ventos de Levante
a clausura sufocante,
libertem, por piedade,
o Canto desta cidade!

SYLVIA COHIN





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sábado, 6 de outubro de 2007

« Os Vértices do Polígono »

(da geometria da vida)

Eugénio de Sá

Abóbada estrelada que me cobre
Manto de Deus vistoso, formidável
É nesta catedral imensurável
Que a minha pequenez mais se acentua
Aqui se despe a alma e fica nua
Esburgada de todo o artifício
E aqui todo o fim é um início
Tudo é mais claro, pulcro e etéreo
Nesta zéfira paz do hemisfério
Eu me concentro como em oração

E o meu espírito então fica mais nobre
Ao recordar pedaços de uma vida
Com uma geometria atribuída
Feita de segmentos por fechar
E vértices cansados de esperar
P’la pacificação da consciência
Porque sem ela ou na sua ausência
Não há equação ou outra forma
P’ra dar convexidade ao que a transtorna
E me trazer de volta ao coração

EUGÉNIO DE SÁ

Brasil
Setembro de 2007