sábado, 27 de maio de 2006

SOMOS DOIS EM MAIO...
(Entrelace)

Fernando Peixoto & Sylvia Cohin

Em Maio descerás como maná
e direi: mulher, és o meu trigo!
o pão que abençôo pela manhã
o alimento que pró campo irá comigo!

Em Maio desabrocho com o frescor
que explode e rasga a terra eivada!
Leva o cheiro suculento e o sabor
do fruto a semear na terra arada!

Somos foice e braços, lado a lado
num Maio de papoilas e verdura.
Somos dois, rasgando como arado
a terra do Futuro com ternura.

Somos raízes de Maio medrando
destemidos, no chão da Esperança.
Somos o sopro da Vida ensaiando
a colheita generosa da bonança!

Somos dois, em Maio, erguendo a voz
quando o dia surge, inda menino,
e cantando nos sentimos menos sós
compondo ao mês de Maio o nosso hino.

Quantos mistérios Maio encerra...
Quanta promessa fecundando a Vida...
Somos pólen que emprenha a velha terra...
Estação que a Esperança consolida!...

Somos dois, em Maio, e a sintonia
deste coral, a dois, tem mais beleza:
Vivermos Maio, a dois, é Poesia!
E connosco floresce a Natureza.

FERNANDO PEIXOTO & SYLVIA COHIN

DOCE LUA... (Dueto)

O teu olhar que me segue sereno,
benevolente, tanta paz me traz...
por certo envolve-me em teu manto ameno,
me aquece o peito e a solidão desfaz...

Contemplo o brilho de teus olhos brancos
tanto mistério oculto no silêncio,
e me pergunto se também tens prantos
que a noite enxuga com seu negro lenço...

E não tens medo? Solta, assim, no espaço?
Tão firme rumo segues passo a passo...
Ah quem me dera ser assim serena!

Com as estrelas eu ensaio o canto
que dos poetas louva o teu encanto...
Doce luar, do amor perfeita arena!

SYLVIA COHIN


DOCE LUA...

O brilho com que a noite se ilumina
e se espalha no mar como cristais
que tanto me seduz e me fascina
e me transporta a sonhos divinais,

a luz com que vestes minha esperança
e que torna os meus olhos mais brilhantes,
é a luz que devolve a confiança
à secreta partilha dos amantes.

Doce Lua! Tão meiga e tão serena
e que acolhes na luz do teu regaço
minha dor, minha mágoa, minha pena

e me confortas no maior cansaço,
permite-me que cante essa beleza
divina, que te deu a Natureza!

FERNANDO PEIXOTO

domingo, 21 de maio de 2006

NOCTURNO

Albino Santos

Quedo-me
Em comunhão suprema
Nas aragens nocturnas
Que desdobram as vagas
De um poema

Rendo-me
À noite esbelta
E já tão nua
Sorrindo numa rima
De lábios vermelhos

Vejo-me
Em olhos de fogos infinitos
Que inflamam mãos
Inquietas
Como delicadas asas
Aproximando
Todas as distâncias

Perco-me
No reflexo sem cor
Deliciosamente lascivo
Onde a alma anoitece
Em verdes cópulas de espuma

ALBINO SANTOS
Porto, Portugal

ELEGIA À SYLVIA COHIN

Fernando Peixoto

Nasceste acreditando na alegria
Que em ti, bem cedo, a vida semeou.
Foste o cântico, o sonho, a melodia
De quem te viu crescer e te criou.

Foste a Mulher que ergueu, dia após dia,
Essa Mãe em que a vida te tornou
Dando o Amor, o Carinho, a Poesia
Aos filhos com que a Vida te brindou.

É por isso que quando tu sorris
O dia tem mais brilho e mais encanto
E uma ave, contente, ergue o seu canto.

Porque tu bem mereces ser Feliz!
Se a dor da Vida foi a tua Máter
Em ti ela forjou um bom carácter.

FERNANDO PEIXOTO
18 de Maio de 2006

domingo, 14 de maio de 2006

MÃE BRASIL

Sylvia Cohin

Ah, eu queria colocar nesta telinha
a imagem verdadeira...
Não aquela com legenda encomendada,
manchete de jornal, produto de exportação,
mas a imagem real da mãe brasileira!

Eu devia chocar mais uma vez,
mostrar a face negra da miséria escancarada
aquela imagem que retrata fielmente
as "mães do povo" de um país sem altivez...
Espalhadas por todo território, mães sem nome,
analfabetas, sem saúde, sem comida,
mães parideiras de filhos cheios de fome,
filhos deste buraco imundo,
que atende pela alcunha de "terceiro mundo".

Mas eu me nego!
Eu me recuso a violar esta miséria
e expor mais uma vez o drama que renego.
Pobreza materna é dor, não é matéria!

Hoje então, prevalece a fantasia,
o engano, a farsa, a mentira deletéria
desses "deuses" que emprenham a mulher
com seu sémen venenoso de Arimã...
Na orgia do poder eles procriam,
geram filhos da desgraça de um povo
que à espera de sua Canaã,
engordam com seu sangue outro amanhã...

Mãe Brasil, de tetas fartas,
que alimentas meio mundo faminto
e de quebra no balanço de tua anca,
inebrias quem espera que repartas,
generosa, o sabor do teu instinto...

Mãe que é Pátria, hoje é só alegria,
comemora com teus filhos esta data...
Veste, mãe, a tua fantasia,
e com teu filho ao pé - bandeira branca,
na mais bela evolução, resgata,
o sentido verdadeiro deste dia!

SYLVIA COHIN
14 de Maio de 2006

sábado, 13 de maio de 2006

TENHO SAUDADES TUAS...

Rosa Teixeira Bastos

Tenho saudades tuas
minha mãe…
Vivo a vaguear
entre ruínas
de uma guerra sem fim,
por entre esquinas
que me rasgam por dentro
a perguntar
porque te foste embora
antes do tempo…

Tenho saudades tuas,
do teu colo,
do teu olhar calado,
do teu modo
de proteger e amar
sem alarido…

Do teu silêncio
que parecia um grito…

De dormir enrolada
no teu seio,
de como me sentia
protegida…

Vou seguir-te algum dia
nesta elipse
que é também ser mãe,
deixar raízes,
continuar aqui
neste deserto
a perguntar,
estejas longe ou perto:
porque te foste embora tão depressa?

Tenho tantas saudades
minha mãe!

ROSA TEIXEIRA BASTOS
Porto, PT

sexta-feira, 5 de maio de 2006

VAGUE-ANDO

Sylvia Cohin

A noite fechada em seu mistério
acolhe solitária estes sinais
que escapam do meu peito esvoaçando,
querendo aportar em teu regaço,
deitada no remanso do teu cais...
A noite escura e fria que me assusta
e impede que te alcance, tão injusta,
me encerra em seu muro que traspasso.
Vagueio na vigília em triste canto,
pássaro noturno que a saudade
transforma em astral de claridade,
mostrando-te o céu por onde ando.

SYLVIA COHIN