segunda-feira, 27 de novembro de 2006

O «MEU» TEMPO

Fernando Peixoto

O Tempo foi percebendo
que o Tempo também corria
e aos poucos se foi contendo,
menos veloz, cada dia.

O Tempo ficou mais lento
mais pensativo e contrito...
sentindo, com desalento,
seu carácter de Infinito.

Ele queria ficar ali
no próprio Tempo parado
para rever o que eu vi
num outro Tempo: o Passado.

Mas, se o Passado já foi…
E se o Presente aqui mora
a dor de Ontem inda dói
no Tempo de hoje e de agora.

Levanto ao Tempo a questão:
- se o Tempo não tem idade,
por que corres, tu, então,
se te espera a Eternidade?

O Tempo parou… no Tempo
sem começo, meio e fim
e criou-me um contra-tempo:
fiquei sem Tempo pra mim!

- o Tempo é só dimensão,
Que vem, que vai e não volta…
O Tempo é imensidão…
Não tem freios, anda à solta…

Retomando o movimento
o Tempo me abandonou
deixando-me o sentimento
da solidão que ficou.

O Tempo fez-me em pedaços
de amargura... ou de carinho...
de glórias... ou de fracassos...
Fiquei sem Tempo: sozinho!

Todo o Tempo que me resta
É Tempo incerto e inseguro…
É Tempo que não se empresta
nem se hipoteca ao Futuro.

FERNANDO PEIXOTO
5-26 de Novembro de 2006

« O TEMPO E EU... »

Sylvia Cohin

O Tempo passou correndo
nem disse pra onde ia,
mas um dia inda desvendo
pra que tanta correria...

Só dei por meu desalento
quando ouvi o Amor aflito
e meu tempo desatento,
despertou com o seu grito...

O Tempo agora pergunta
a razão do meu correr
e esta pressa conjunta,
anima o Tempo a Viver...

E do Tempo levo os traços
gravados num pergaminho.
O Tempo vive em meus passos
que ecoam pelo caminho...

SYLVIA COHIN
Porto, 24.10.2006

domingo, 19 de novembro de 2006

« DESVENDANDO A VIDA »

Gui Oliva

hoje tentei elevar o pensamento além de mim
e me entreguei a um salutar pensar,
mas a vida é um nó que parece não ter fim
e quando mais se pensa vida resolvida... tudo sai do lugar

e a vida segue causticamente direcionando rumos
assopra nos ouvidos... pode sonhar projetos...
mas não os inclua em planos, não explore seus insumos
pois de repente tudo muda em passo desconexo

a vida deve ser vivida assim... sem mais enganos
apenas acompanhar o tempo que se esvai passando,
e não desejar dela mais do que ela possa lhe ofertar

e cantar e dançar a sua música, e desfazer sentimentos estranhos
porque num sopro ela termina e, no seu curso, vai açodada relembrando:
o melhor é viver, no tempo findo, a faísca... tentar ser amada
e também amar!

GUI OLIVA
Santos-SP - Brasil
18/11/06

sábado, 11 de novembro de 2006




DUETO: VIAGEM AO ARCO-ÍRIS



Fernando Peixoto & Sylvia Cohin


Teus lábios incendeiam os meus olhos,
Revolve-se o corpo em combustão
E se venço a tortura dos escolhos
É pr´alcançar em ti o meu vulcão.


Subindo a ladeira da emoção
Venço o medo, redobro a confiança
E transformo o que era uma ilusão
No redobrado sonho da Esperança.


Assim se sobe a vida passo a passo
Sorvendo cada nuvem como fonte
Parando por instantes no regaço
Do teu corpo, meu Éden e horizonte.



*****************



Teus olhos me revelam com carinho
O chão por onde ando em brasa ardente.
No leito de teus braços, o meu ninho,
Onde corro como lava incandescente.


Em êxtase crescente eu esvoaço
Galgando lentamente o infinito
Levada firmemente em teu abraço
Sonho que é Verdade e estava escrito.


Nas ondas de meu corpo és navegante
Sou fonte desaguando sem descanso
És Porto que me abriga aconchegante
Paraíso onde me deito, meu remanso.

FERNANDO PEIXOTO & SYLVIA COHIN

terça-feira, 7 de novembro de 2006

« POETA, MOSTRA A ALMA NUA!»

Sylvia Cohin

Nas histórias de um poeta,
o inverossímil veste-se de verdade;
É tão convincente, que não se percebe
a singularidade.

Se a rima tem alegres sustenidos
ou se é triste e embarga a voz
entre gemidos,
a alternativa do poeta é a entrelinha,
sutil e sorrateira, encravada como espinha...
Surpreendente, não raro ousada,
por vezes de arrelia ou revoltada...

Pontuação que acentua a emoção,
entre parêntesis oculta um grande hiato
perambulando entre a fantasia e o anseio
que amiúde, narra como sonho... ou mero fato...

Na metáfora, o poeta instiga,
raramente usa a maledicência
e na figura, sem perdão, caustica!

Sempre em vigília, o poeta espreita.
Revela em cada rima o instante captado,
(sonhado ou revivido)
e partilha, realizado...

Tem fome, anda à cata de alimento
pelo mundo...
Inquieto, mergulha sempre mais fundo.
Agarra o infinito
e brada ao vento, em verso, o grito...

Assim, alcança o clímax,
prostrado aos pés da Musa mítica,
entrega ao mundo um novo Poema!
Gotejam reações, ouve-se o aplauso,
eclode a crítica
que o ego do poeta alimenta...

- POETA, MOSTRA A ALMA NUA!

Fugaz momento que a simbiose evidencia...
Caem barreiras e o poema ganha Vida,
já não é só uma poesia...
Fusão perfeita,
canta o Poeta de sua Cidadela
e o mundo atento se deleita.

O Poeta é um pensador.
Não... melhor dizer que é um pescador...
É navegante...
e frente ao Mar da vida errante,
despeja rimas « sua verdade »
que a espuma engole e lança na
ETERNIDADE...

SYLVIA COHIN

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

« CHAVES & TRAVES... »

Sylvia Cohin

Uma Chave não é nada
reles metal recortado
só um verso em revoada
e um segredo ensimesmado...

Uma Trave bem segura
simples 'venda' que é bravata,
é só rima que perjura,
um mistério que acicata...

Uma Chave bem chaveia
ou destrava uma barragem...
Uma Trave bem bloqueia
ou permite uma passagem...

Se a 'chave-de-braço' prende,
reduz a força à metade,
a Trave do Abraço 'rende'
o coração que invade...

Segredos de 'sete-chaves'
nas entrelinhas da rima
são dos versos mais suaves
a melhor matéria-prima...

Há tantas Chaves sem uso,
abrindo portas erradas...
E as Cidades, já sem fuso,
desistem: « estão cerradas »...

Uma Chave é o que basta
para o mistério da vida
que a Poesia sempre casta
usa na justa medida...

SYLVIA COHIN