quarta-feira, 19 de novembro de 2008

« DUETO »

Fernando Peixoto & Sylvia Cohin

Assunto: Escrevinhando
Sent: sexta-feira, 23 de março de 2007 22:13

Sinto-me tonto e nem sei bem porquê.
Ou talvez saiba
mas uma vez mais queira
amordaçar dentro de mim
aquele grito de aflição que teima
em morrer silencioso no meu peito.
Ontem foi um dia divino, uma noite memorável.
Lemos poesia, e voamos...
percebemos tanto elo da cadeia que nos une...
Mas o tempo não se renova
nem se repete
apenas se sucede no ritmo
infatigável do relógio insensível e estúpido.
Hoje quero apenas
beber
e tivesse eu a certeza que beber
me faria entrar numa outra atmosfera,
beberia sem parar...
depositando os lábios adormecidos
sobre a fonte de onde jorra o sonho...
Não, hoje não é daqueles dias
em que acordamos repletos de certezas,
mas apenas a hora
em que me apetece disparar por aí fora,
falar em voz alta no silêncio da noite
e dizer às estrelas: calai-vos que agora falo eu!
E a lua, sorrindo atrás de uma nuvem
parece ciciar-me um sopro de luz
que se confunde com a névoa que se evola do cigarro...
A cidade está quieta, como quem espera
o que virá no interior da noite
e só eu sei que o interior da noite
reserva a mesma solidão de todas as outras noites...
e só eu sei que tu me esperas
como farol de navegante
que não se cansa de esperar e de iluminar
as incógnitas nocturnas.
Escrevendo respiro,
cerrando os olhos acredito
que o Amor está ali,
à minha espera!

FERNANDO PEIXOTO

Subject: Escrevinhando
Sent: Friday, March 23, 2007 22:51 PM

Sinto-me sufocar em letargia.
Um nó me aperta a garganta,
o grito de minha alma esvai-se
e rasga o ar, nada o detém.
Dói-me o peito lacerado de tristeza;
Parada no tempo, no chão, no espaço,
tento conter a carne que treme,
o frio das mãos vazias a tatear,
o abraço que espera,
a boca sequiosa de calor.
Quero o regaço onde me encolho!
"Ontem" tão juntos, tão perto,
tão ternos e descontraídos...
Um espelho que nos refletia...
uma fileira de cadeiras...
alguém dizia alguma coisa, não lembro...
tenho apenas uma vaga lembrança...
Os miúdos a marulhar... (lembras?)
uma sande qualquer... um copo...
“tantos elos da cadeia que nos une” a gritar...
Tão próximos,
ao alcance do abraço incontido,
a magia dos olhares faiscando
o que pedia para estar entrelaçado,
unindo o que não vive separado...
Fel a escorrer da boca silenciosa da noite
que tudo abafa... e traga.
Soubesse eu que rompendo esses grilhões
abria todas as portas,
não esperava para ler novos poemas, voar,
nos braços deste amor que nos sustém
e mal cabe dentro do peito.
Gritava ao mundo: calai-vos que nada sabeis!
De nada valem vossas leis senão para
plantar tristeza, murchar o Amor,
assassinar a Liberdade!
E enquanto espero, sinalizo
inundando de luz nosso caminho,
braços abertos para te receber e
sempre que chegares, louco de saudades,
revivo em teu Amor, (nossa certeza),
ou morro dele, feliz de tanto amar...

SYLVIA COHIN

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15 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Amiga Sylvia,
Eis que as emoções brotam, as lágrimas rolam, as lembranças nublam...
É chegada a hora...
Fica bem, ora aos céus e pede forças para desnudares a alma maciamente, sem subterfúgios... É belo Amar, e o Amor agradece, fica honrado em saber-se experimentado, vivenciado, imortalizado... Afinal...

"Quando o Amor chegar, segui-o..."
"Felizes aqueles que sofreram amando para que não se perdessem."

Momento de contrição e prece. Oremos...
Abram alas, que o Amor nos Versos está a passar...
Beijos, Sylvia Cohin e Fernando Peixoto. Eu os aplaudo. De pé!

Regina Coeli.

20 de nov. de 2008, 00:40:00  
Anonymous Anônimo said...

Eu poderia falar mil vezes e mil minutos sobre a beleza de "Escrivinhando" não só pelo próprio mas pela sensação de sintonia perfeita e eterna
que me vem em cada linha.
COMPLETO SHOW!
EXTRAPOLARAM A BELEZA DO BELO!
ABRAÇO E EMOÇÃO!
Gilia

20 de nov. de 2008, 00:48:00  
Anonymous Anônimo said...

Minha amiga, quando alguma poesia ou algo muito importante toca lá dentro onde guardo meus segredos, calo-me. Não existem palavras para dizer, descrever o sentimento. Nada poderia expressar o que sinto neste momento. Se felicidade por te saber um dia, feliz, ou grande tristeza, porque quem ama como nós, não sabe, não suporta esquecer. Único consolo: sabemos amar e isso nos é suficiente. Tudo o mais guardamos... dentro de nós. Só quem sabe e entende é a Poesia e "...QUEM SABE LER E OUVIR ESTRELAS". Beijos e uma troca entre as almas. Theca Angel

20 de nov. de 2008, 00:57:00  
Anonymous Anônimo said...

Minha Amiga,
Ambos belíssimos. É incrívelmente bonito.
Obrigado por partilhar.
Um carinho grande do sempre amigo,
José Carlos

20 de nov. de 2008, 01:08:00  
Anonymous Anônimo said...

Querida amiga

Dueto belissimo, um casamento Perfeito de amor, saudade, lirismo, so mesmo a poesia pra traduzir sentimentos tão profundos
Obrigada pelo carinho

Conceição Bentes

20 de nov. de 2008, 05:55:00  
Anonymous Anônimo said...

Ma trés chere Syl

J'ai lu et relu ce dueto et je suis ici sans paroles.Ce dueto est tellement beau,qui me coupe le souffle.Reflet d'un AMOUR intense á tel point qu'il nous fait frémir.
Les poétes mettent á nu leur âme,le profond d'eux mêmes,et c'est magique!!!
Avec vous deux,n'a pas d'étoiles que nous ne pouvons ateindre,ni rêves que nous ne pouvons réaliser...
Vos écrits vont au-de-lá de l'imagination,que seulement un coeur amoureux peut le comprendre.

Merci de partager cette beauté avec nous!!!

Je t'embrasse trés,trés fort...Rosa

20 de nov. de 2008, 10:34:00  
Blogger Fernando Peixoto said...

Sylvia,

Quando as palavras se nos esvaem como areia por entre os dedos da mão de uma criança...
Que arte, que beleza, que assombro...
Quando me recompuser, prometo ser mais racional mas agora, permite-me minha querida, prestar-te a mais pueril vassalagem.

Deste teu eterno fã, OBRIGADO pela benção!

Beijo,

Fernando Peixoto

20 de nov. de 2008, 22:47:00  
Blogger Branca said...

Passo, mas não comento, contemplo apenas o que é pura natureza e a natureza não se comenta, traz-nos sempre momentos de beleza, serenidade e paz.
Não consigo dizer mais nada perante a profundidade, a ternura e a vida que existem aqui.
Estou há algum tempo para escrever, já vi entrar o comentário do Fernando quase ao mesmo tempo e estou como ele, preciso de me recompor.
Voltarei de certeza para reler vezes sem conta.
Beijinhos para ti Sylvia.
Obrigada pela partilha.
Branca

20 de nov. de 2008, 22:55:00  
Anonymous Anônimo said...

Syl,
A música e os versos me levam para "mares nunca dantes navegados", para além de mim e de vocês autores desse dueto de maravilhas reconditas em cada linha, cada rima, cada verso...
Que bom você está, partilhando conosco parte de momentos tão belos cheios de vida, poesia e encantamento.
Um beijo enorme

22 de nov. de 2008, 19:15:00  
Anonymous Anônimo said...

Syl, em respeito a tudo o que foi escrito, como foi escrito, por quem e para quem foi escrito, guardo silêncio.
Que palavras escrever aqui que não maculem a essência dos poemas...?
Beijo,
Lêda

23 de nov. de 2008, 14:03:00  
Blogger Branca said...

Tenho passado..., incapaz de comentar o novo pps, como me custou comentar acima estes versos, passo apenas para mergulhar na profundidade das palavras e na beleza estética e humana de alguém que sempre me fez chegar ao âmago da vida com os seus versos.
Obrigada Fernando, sempre presente como a brisa que por estes dias senti no estuário do seu Douro. Continuo a senti-lo aqui bem dentro da minha alma quando o leio ou sempre que me lembro de si a propósito de mil e uma coisas.
Obrigada Sylvia pela tua genialidade e pela partilha.
Beijos
Branca

24 de nov. de 2008, 19:24:00  
Blogger Menina Marota said...

Ainda mal refeita da perda de alguém de quem sinto profunda saudade, pelo seu bondoso caracter, pelo seu saber, pela sua filosofia de vida e em especial, pela forma sensível e humana, como colocava as palavras dentro da nossa alma, tenho tentado imaginar que ele partiu numa viagem e que um dia destes, está aí novamente, junto de nós, a sorrir, a conversar, a ensinar-nos.

Tenho por ele, como Ser Humano, um enorme respeito e admiração. Mas era um lutador e sei que gostaria que cada um de nós seguisse o caminho dos nossos sonhos, como ele próprio tentou tantas vezes seguir.

Grata por aqui o partilhares.

É bom recordar as suas palavras.

Um abraço amigo

25 de nov. de 2008, 06:58:00  
Anonymous Anônimo said...

Sylvia,
embora não a conheça pessoalmente, amei os seus poemas postados no seu blog.
E os duetos são fenomenais, tanta cumplicidade...


Um grnde abraço,

Paulo F.

25 de nov. de 2008, 10:57:00  
Anonymous Anônimo said...

Para a MENINA MAROTA, com quem dividimos muitas noites de poesia, uma palavra frente ao seu comentário oportuno e gentil:
"...Mas era um lutador e sei que gostaria que cada um de nós seguisse o caminho dos nossos sonhos, como ele próprio tentou tantas vezes seguir..."
Por saber tanto dessas palavras, fiz deste espaço que era nosso (do Fernando e meu), o relicário da expressão de muitos de seus sonhos que juntos partilhamos.
Quando um homem torna-se "propriedade pública", fica prisioneiro de muitas coisas.
Ele sabia disso, MAS MUITOS, NÃO.
Se leres acima o template que ele mesmo escreveu, entenderás melhor a ele, a mim, e a razão deste espaço que espero conduzir com a mesma dignidade que norteou NOSSOS SONHOS. O acervo 'composto por nós', será veiculado em sua memória, dando-lhe, ainda que tardiamente e noutra dimensão, o prazer de vê-lo materializado em literatura como tanto quis...
Sem grilhões, sem discriminações, alegremente liberto. É um testemunho valioso que não pode ser ignorado ou subtraido à história de vida de ninguém! Muito menos a ele, tão frontal e corajoso. (Que sirva de exemplo).
Agradeço tua visita. Serás sempre Bem Vinda.
Um abraço,
SYLVIA COHIN
Brasil, 25.11.2008

(esta resposta é uma excessão ao meu recolhimento)

25 de nov. de 2008, 14:16:00  
Blogger JAC said...

Obrigado, Sylvia, essa troca de gentilezas só faz engrandecer os nossos blogs através da divulgação do trabalho que estamos fazendo e a apresentação dos nossos melhores poetas ao mundo dosw apreciadores da boa poesia.
Sempre às suas ordens.
Zealberto
jac-versoreverso.blogspot.com

25 de nov. de 2008, 20:28:00  

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