sábado, 20 de março de 2010


« A Loucura do Poeta »


Fernando Peixoto & Sylvia Cohin



Que a voz do Poeta não se cale
Que os olhos do Poeta não se fechem

Deixe o mundo que o Poeta fale
Com palavras que n’alma remexem



Que os seus versos sejam a sirene
Que alerta toda a gente à sua volta

Que o seu canto seja voz perene
e ao ser humano empreste sua escolta



Que o poema seja o grito inconformado
Dos braços que se erguem na revolta

Que ecoa em retumbante desagrado
E obriga a injustiça à contravolta



Contra os braços curvados e a cerviz
Submissa ao peso da opressão.

Que acorde o direito a ser feliz
Oculto sob o peso da coação.



Que o poema seja sempre vertical
Um relâmpago enorme em noite escura.

O lume da palavra universal
Que rebenta o grilhão de toda agrura.



Que o Poema seja uma canção
E rasgue o medo em mil pedaços

Que seja um alento ao coração
Semente medrando nos regaços



Com versos de amor e de ternura
Espalhados por mil bocas e mil braços

Seja o Poema um Verbo de candura
E um elo de união em doces laços



Que o Poeta seja mais que um ser humano
E se transforme no fogo de Vulcano
E que tanja a lira do seu canto
Com a magia do maior encanto
Elevando a Poesia até ao céu.
Que ele seja da vida o menestrel
E que entregue aos homens o seu Fogo
Na coragem destemida de seu rogo
Assumindo o papel de Prometeu
Ao sabor do caminho que escolheu


Quando o Poeta escreve por Amor
A palavra torna-se a armadura

Que o defende da tragédia e do temor
E faz do verso um bálsamo que cura!



O Homem só vence a própria dor
E destrói o vírus da amargura,

Com a imensa força que é o Amor
mesclado co’a semente da Loucura



É louco, o Poeta? Deixem lá:
Loucura de Poeta é lucidez que não se tolhe!

Que a Poesia seja uma aventura
e que os versos saibam mergulhar
no mar da Verdade e da Loucura!
E o Poema seja a seara onde se colhe
o trigo da Justiça com fartura.

Fernando Peixoto
e Sylvia Cohin
Porto-Pt, 27.01.2005

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1 Comments:

Blogger InFeto - um artista organoreciclável. said...

Que aprendamos a escrever utilizando camisas de força. Grande texto. abraços

http://poesiafotocritica.blogspot.com/

28 de abr. de 2010, 13:09:00  

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